Resenha: O Fio das Missangas, Mia Couto.
Passando
pelas timelines quando o assunto é a
arte de cozinhas, você facilmente já deve ter se deparado com uma frase que
estampa nosso sentimento sobre a arte de cozinhar. A frase a qual me refiro é
“Cozinhar não é serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros”. Essa sentença pertence
ao autor moçambicano Mia Couto. Procurei saber mais afundo sobre de onde era
retirado o excerto e fiquei encantada com minhas descobertas, portanto, resolvi
trazê-las aqui para vocês, afinal, Mia Couto conseguiu unir todo o conceito que
o nosso blog traz: literatura e culinária.
A história a qual essa frase pertence,
está dentro do livro “O Fio das Missangas”, no conto ‘A avó, a cidade e o
semáforo’. Esta obra é uma reunião de 29 contos que exploram o universo da
condição feminina, as missangas metaforiza as histórias da vida que são unidas
pelos fios das missangas. A sinopse fornecida pela Companhia das Letras,
editora responsável pela publicação da obra, traz a seguinte conteúdo: 'O fio
das missangas' adentra o universo feminino, dando voz e tessitura a almas
condenadas à não-existência, ao esquecimento. Como objetos descartados, uma vez
esgotado seu valor de uso, as mulheres são aqui equiparadas ora a uma saia
velha, ora a um cesto de comida, ora, justamente, a um fio de missangas.
Já
conheço o autor pela minha leitura de “Cada homem é uma raça”, e lendo as duas
obras ficam ainda mais claras as influências da literatura brasileira sob o
autor moçambicano. Mia Couto ‘bebeu’ da água de Guimarães Rosa, e isso fica bem
explícito ao nos deparamos, durante a leitura, com os vários neologismos que
contém o texto, além de todas as metáforas, a preciosidade literária e o
trabalho com a linguagem que Mia Couto mostra presente em todas as suas obras.
O conto que tanto vemos fotos serem
compartilhadas por aí, trata sobre a história de um professor que ganha como
prêmio, uma ida a cidade, e ao comunicar isso a sua avó, ela se preocupa com
sua estadia no local, quem vai lhe preparar o alimento e cuidar para que se
sinta em casa, então que nos deparamos com o trecho:
- E, lá, quem lhe faz o prato?
- Um cozinheiro, avó.
- Como se chama esse cozinheiro?
Ri, sem palavra. Mas, para ela, não havia riso, nem motivo.
Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou
ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Quem assegurava a pureza da peneira
e do pilão? Como podia eu deixar essa tarefa, tão íntima, ficar em mão anônima?
Nem pensar, nunca tal se viu, sujeitar-se a um cozinhador de que nem o rosto se
conhece.
- Cozinhar não é serviço, meu neto – disse ela. - Cozinhar é
um modo de amar os outros.
Couto,
Mia. O Fio das Missangas: A avó, a
cidade e o semáforo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
A
avó, sempre preocupada com o acolhimento do neto, que iria ficarem uma casa de
‘ninguém’, mostra-se muito zelosa e atenciosa, mesmo om todas as preocupações.
Ao chegar a hora de ir a cidade, a avó do narrador decide ir com ele, devido ao
temor aos cuidados de seu neto. Podemos então, ser apresentados a surpresa de
que a avó, quando chega o momento de voltar pra casa, prefere ficar com os
mendigos, pois se sente mais acolhida que em sua própria aldeia. Vemos tantas e
tantas metáforas e figuras de linguagem nesse texto que ficamos encantados!
Após ler o conto, percebemos que ele trata das relações humanas, o amor, e o
cuidado que é transparecido pela avó com seu neto.
Recomendo
muito a leitura do livro todo e do conto, é uma oportunidade de conhecermos
literatura nacional sem ser de origem Norte Americana, a que sempre lembramos
quando falamos de literatura internacional. Não deixe de conferir a foto com
essa frase lá no nosso instagram, é só clicar aqui e ir direto para lá! Espero
que tenham gostado, deixe suas opiniões aqui nos comentários!
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